quinta-feira, 8 de abril de 2010

O encontro

Acordou num quarto estranho depois de um sonho intrigante sobre rompimentos e humilhações. A visão de seus pertences próximos à cama logo a despertou para a realidade de viajante. Sacudiu as lembranças oníricas, pois estava muito longe para se preocupar. Léguas, a uma distância medida no tempo. E sabia que o que a esperava era maior do que qualquer necessidade de ter alguém. Ali ela tinha um grande encontro por realizar, e ela decidira que iria virgem de espírito a fim de viver toda a intensidade das primeiras impressões. Não lera, não ouvira, nem ao menos pensara muito. O caminho era longo e ela queria viver também esse espaço, captando todos os elementos da trilha até o momento mais esperado de ver.Dispensou o carro. Seus pés precisavam (re)conhecer aquela caminhada. Sentia que seguiria para onde não sabia mas adivinhara. E saiu assim em direção ao novo e simultaneamente, e encantadoramente, familiar. Era como se tudo já estivesse dentro dela e o momento não fosse uma descoberta e sim uma integração. Integração de duas partes que se pertenciam e se reconheceriam. Pé passa outro pé. Às vezes ela parava. Porque não tinha pressa. Porque queria saborear cada pedaço de onde passava e, como um segredo de diário de menina, guardá-los dentro de si. Olhou para frente e viu que chegava a seu destino (será que dá para falar de fim?). De início não soube o que sentir, pois deixara suas expectativas caírem ao sopé da porta de casa. Se sentia mais mulher, porém, e percebia que era grande ela e o que ela vivia. Era maior que ela mesma. Era como imaginara. Não sonhara, então. Existia! Suas mãos pendiam perplexas. O que fazer diante dessa presença tão forte mas também tão sua? Estava conhecendo um espaço presente nas suas mais profundas ilusões e, no entanto, o que passava a fazer sentido era ela mesma. Ela era. Com o lugar, com a vida, com o indizível. Sorriu de leve com o constrangimento de quem vivia algo proibido, e o coração batia forte no ritmo de sua nova imagem.

4 comentários:

  1. Adorei. O começo envolve o leitor e a forma que você deu à narrativa faz com que o texto caminhe junto da personagem.
    Uma ótima notícia o blog. Escreva mais!
    Beijos

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  2. Valeu, Villa. Sempre me encorajando rs.. beijos

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  3. Vc deve ler um bocado de Tchecov para se inspirar assim. A escrita está impecável, sim, mas ainda pende pra figura da mulher perdida que se achou de alguma maneira e se sente feliz por ter-se achado sozinha.

    Nossa, complicado, né não?

    De qualquer maneira, muito gostoso de ler.

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  4. Muito bonito, Sá!
    Lembra muito as questões colocadas pela Clarice Lispector, que, imagino eu, vc deve ser fã. Continue escrevendo, e tendo a coragem de mostrar. É muito gostoso ler as suas buscas, encontros e desencontros. Só podiam ser escritos por alguém especial e talentosa como vc.
    Bjão

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